Reforma de apartamento rápida, sustentável, engajada afetivamente e com controle financeiro para a chegada de um bebê
- carolpudenzi

- 24 de mar.
- 6 min de leitura
São Paulo | SP
O mais encantador da arquitetura é o desafio de fazer cada projeto personalizado e a magia que é ver que, como água no copo, ela se molda a quem vive o espaço, e vice versa.
Em 2010 surgiu a urgência desse projeto, que transformaria uma república de estudantes da USP em um lar para um casal e um bebê, que já estava a caminho.
Os móveis caracteristicamente improvisados de "república" deveriam virar itens mais consistentes e funcionais, cortinas significariam mais estética, controle de luminosidade e de vento, revestimentos deveriam trazer mais beleza e conforto. A planta do apartamento, como um todo, seria revista, pra contar uma nova história cotidiana.
Tudo isso, num tempo curto e preciso, ditado pela biologia humana da gestação, subtraída aí já um ou dois meses.
O casal tinha a característica de um engajamento sólido em Economia Solidária, tornando inevitável esta conexão com as decisões de arquitetura para o novo lar deles.
A definição do projeto e como faríamos para a reforma ser efetiva e rápida
Seguindo a ordem tradicional e mais adequada de se começar um projeto, a planta baixa foi revista, traçando a disposição da mobília que incluía a adaptação dos quartos para quarto de casal, quarto de bebê e escritório. Alguns ajustes foram necessários, como doar parte do escritório para um closet do quarto de casal, criar um roupeiro que facilitasse o dia a dia da família, integrar sala e cozinha, dividir visualmente cozinha da lavanderia.
O piso antigo de cerâmica estampada viraria um piso de taco estruturado de madeira (o maciço extrapolaria custos e prazos, pois exige tempo de lixagem, secagem e calafetação das juntas), alguns elementos do banheiro seriam substituídos, outros mantidos, a bancada da cozinha, também por razões de economia, seria em concreto e cimento queimado, pastilhas cerâmicas fariam arremates em pontos estratégicos, trazendo beleza e agregando como um elemento natural.
A marcenaria seria em MDF cru aparente, pois o casal não queria armários brancos nos quartos e foi uma alternativa aos altos preços da madeira maciça ou de lâminas naturais de madeira. Não cogitamos laminados amadeirados sintéticos.
O tal controle financeiro
Sem que estivesse na programação, além de rápida, a reforma teria que ter total controle financeiro.
Fizemos uma planilha com os itens previstos no projeto. No ideal, o resultado superava em aproximadamente 50% o valor disponível para a obra.
Assim, fizemos ajustes nos acabamentos e garimpamos alguns itens para chegarmos ao real montante financeiro disponível.
Mãos à obra com materiais sustentáveis e engajamento afetivo - a reforma do apartamento
Quarto do casal e o engajamento afetivo

Coerente com a proposta de elementos da economia solidária, ou, neste caso, optando por produtos artesanais e de fabricação local, colocamos luminárias feitas de arame com bagaço de cana, feitas por moradores de rua da ONG Luz da Rua, do centro de São Paulo.
A cabeceira foi feita no local pela avó do bebê: uma placa de MDF cru, uma camada fina de espuma, alguns metros de couro ecológico verde e, na própria obra, grampeamos e montamos. Os marceneiros finalizaram a montagem na parede, embutindo tomadas e interruptores que trouxeram para a cama um lugar de fácil acesso do acendimento, em paralelo, da iluminação principal do quarto.
Gosto muito de aproveitar os "erros" construtivos dos prédios e por achei perfeito o aproveitamento da reentrância da parede desalinhada do pilar para a instalação desta cabeceira sem comprometer a profundidade do quarto.
Também a largura do quarto, apesar de pouca, foi aproveitada com esse desenho de aparadores estreitos (apenas 30cm), que multiplicaram a quantidade de gavetas e sapateiras.
A cortina em linho claro trouxe uma agradável luz difusa final.

Quarto do bebê - soluções sustentáveis

Assim era o quarto antes da reforma...

A reforma teria que ser rápida e sustentável para a chegada de um bebê.
No projeto, aproveitamos o "desnível" do pilar na parede para usar como uma estreita estante para bichinhos de pelúcia e decoração, com lousa embaixo para desenho.
Também aqui usamos, sob encomenda da ONG Luz da Rua, uma chapa de arame com bagaço de cana para embutir iluminação entre painel de desenho e prateleiras, com um sutil botão de acendimento.
A troca do piso cerâmico pelo piso de madeira estruturada em Cumaru elevou o conforto térmico e toda a estética do quarto.


Escritório
No escritório foi feito um detalhamento para mesa, estantes e quadro "negro". Nesse caso, verde, para anotações.


Roupeiro no corredor
A adequação do projeto ao quarto de casal, escritório e criação do roupeiro no corredor foi um dos itens que mais demandou reformas, pois exigiu a quebra de algumas paredes.
Ao final, resultou num generoso armário de cima a baixo e com espelho para uso e amplidão do espaço.


Banheiro
No banheiro, por razões de sustentabilidade e economia, aproveitamos parte do móvel gabinete de refizemos outros itens:
Criamos uma janela voltada a área de serviço, colocamos pastilhas cerâmicas Jatobá, fizemos um nicho para xampu e trocamos o gabinete de marcenaria.



Usamos pastilhas cerâmicas Jatobá no banheiro e aproveitamos um antigo toalheiro cerâmico da Deca como suporte para um cabo de vassoura de madeira recompondo a função de porta toalhas, de maior comprimento.

Sala

A sala precisava de pintura completa, troca de piso e de iluminação
Na sala, toda a cor da parede foi trocada por branco e uma das paredes pintada com tinta à base de terra.
Uma cortina de linho branco, até o chão, trouxe a luz difusa, aconchego e um tanto mais de estética.
Novamente tivemos intervenção artesanal da família, com a confecção do Banco Bernardo, dessa vez pelo avô da criança: uma base metálica e pranchas de madeira compondo assentos e encosto. Design com engajamento afetivo, vimos por aqui.



Cozinha
A cozinha concentrou outra grande parte das alterações do apartamento, com a troca do piso, troca de bancada, transição para a lavanderia e marcenaria.


A bancada e piso da cozinha foram feitos em cimento queimado e foram trabalhados detalhes de transição de materiais, como rodapés sombra (recuados da projeção das paredes) e frisos, com perfis metálicos pintados.

Um ponto alto do projeto foi o nicho criado através da quebra parcial da parede da cozinha, criando um espaço de apoio cotidiano para esta cozinha em formato "corredor".
A marcenaria feita nele permitiu abrir e fechá-lo de acordo com as necessidades do dia a dia.


Um resumo dos itens sustentáveis, afetivos e de baixo custo na reforma:
Materiais e produtos sustentáveis
Piso de taco estruturado de madeira cumaru (piso pronto para colagem, com a camada superior de madeira natural cumaru de reflorestamento
Tinta de terra na parede
Pastilha cerâmica
Luminárias de bagaço de cana
Arquitetura afetiva
Cabeceira artesanal feita pela família, com tecido e espuma grampeados
Banco artesanal feito pela família
Luminárias fabricadas por ONG de moradores de rua
Itens de baixo custo
Piso e bancada de cimento queimado
Reaproveitamento de itens existentes, como o armário de espelho do banheiro
Marcenaria em MDF cru
Soluções criativas
Adaptação de paredes para closet no quarto de casal e roupeiro no corredor
Nichos com armário e bancada embutida
Um apartamento projetado em 2 meses e uma obra completa de 5 meses, cheia de aventuras, de dúvidas, de decisões, com um teto de custo total, feita com planejamento, na ponta do lápis.
Ficou pronta uma semana antes do bebê nascer, tempo que o casal usou pra se instalar e deixar tudo pronto pra chegada desse ser tão especial.
Fotos do apartamento pronto: Claus Lehermann (https://www.instagram.com/claus.lehmann/)
Materiais usados: piso taco estruturado cumaru, piso de cimento queimado, tinta de terra, pastilha cerâmica, MDF cru, compensado naval
Projeto: acmp arquitetura e urbanismo




incrivel, me fez relembrar de varias coisas que tinha esueci faz tempo!!!!!